Stablecoins é uma classe diferenciada dentre os tipos de moeda digital a qual tem como objetivo primário oferecer menor volatilidade de preços por ser atrelada a um, ou mais ativos de reserva.
Ativos de reserva são ativos financeiros, mantidos por bancos centrais, ou organizações que classificam seu valor a sociedade. De acordo com a Investopedia: “Um ativo de reserva deve estar prontamente disponível para as autoridades monetárias, deve ser um ativo físico externo que, em alguma medida, é controlado pelos formuladores de políticas e deve ser facilmente transferível.”
Dólares por exemplo, bem como o ouro, são exemplos notórios de ativos de reserva.
Entre as razões principais para a estabilidade de preços das moedas fiduciárias estão as reservas que as apoiam, ou seja, os ativos de reserva, e as ações oportunas do mercado pelas autoridades de controle, como os bancos centrais. Como as moedas fiduciárias estão atreladas a um ativo subjacente, como reservas de ouro ou forex que atuam como um mecanismo de garantia, suas avaliações de preço são menos suscetíveis a altas volatilidades.
Esse cenário de alta volatilidade é justamente um dos componentes que atrapalha a adoção do Bitcoin como meio de pagamento no dia a dia. A alta volatilidade que pode ocorrer em um período de poucas horas torna a criptomoeda inadequada para ser usada como pagamento, pois quem vende e compra está sujeito a perder dinheiro no câmbio, o que vai de contrário ao princípio de reserva de valor monetário na troca. Os usuários perdem confiança no ativo devido a incerteza do poder de compra futuro do ativo.
Link para verificar a volatilidade do Bitcoin versus outros ativos: clique aqui
No âmbito das criptomoedas, o theter é chamado de stablecoin porque foi originalmente projetado para sempre valer USD$ 1,00, mantendo USD$ 1,00 em reservas para cada tether emitido. Assim, é uma das stablecoins que são atreladas ao dólar. Outros dois exemplos são o TrueUSD e o USDC.
A theter, no entanto, é uma stablecoin controversa. Isso se deve devido ao fracasso da empresa que a controla, Tether Limited, em fornecer uma auditoria comprovatória e prometida que demonstra possuir as reservas contratuais que apoiam sua emissão.
O Wall Street Journal citou em meados de 2018: “o tether é uma espécie de banco central do comércio de criptografia … [ainda] eles não se comportam como você esperaria que uma instituição financeira responsável e sensata faz.”
Mas a classe de stablecoins não é somente feita de notícias controversas, muito pelo contrário, é uma classe muito promissora de criptomoeda de acordo com diversos especialistas no mundo.
Entre os objetivos que as stablecoins pretendem alcançar destacamos:
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Criar estabilidade entre pares de negociação de criptomoedas em negociações como as realizadas em forex;
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Diversificar portfolios para diminuir o risco devido à instabilidade do mercado;
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Utilizar em transações diárias, sem perda de confiança devido a perda de poder de compra;
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Auxiliar na adoção de moedas digitais;
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Formar um novo ecossistema financeiro;
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Auxiliar nas previsões de investimento, minimizando a volatilidade atual do mercado de criptomoeda;
- Democratizar o acesso global a uma moeda estável, protegendo as que são afetadas pela hiperinflação;
Podemos exemplificar como utilidades das stablecoins no setor financeiro:
- Investimentos em renda fixa. Facilitar o gerenciamento de ativos;
- Pagamentos de empréstimos. Empréstimos financeiros que utilizam os benefícios dos “smart contracts”;
- Meio de pagamento. Transações diárias;
- Pagamentos recorrentes. Hipoteca, aluguel, assinatura;
As principais stablecoins presentes atualmente no mercado são:
- Theter
- TrueUSD
- USD Coin
- Paxos
- Gemini
- Dai
- BitUSD
- sUSD
Quais são os tipos e como as stablecoins mantém seu valor?
Stablecoins colateralizadas em FIAT
O tipo mais comum de stablecoins é o garantido, ou lastreados por moeda fiduciária como USD, EUR ou GBP. A Tether pertence a esse tipo de stablecoin.
As stablecoins apoiadas pela Fiat são apoiadas na proporção de 1:1, o que significa 1 stablecoin é igual a 1 unidade de moeda (como um dólar). Então para cada stablecoin que existe, há moeda fiduciária real sendo mantida em uma conta bancária para fazer o backup.
Quando alguém deseja resgatar dinheiro com suas moedas, a entidade que gerencia o stablecoin retirará a quantidade de autorização da sua reserva e ela será enviada para a conta bancária da pessoa. Os stablecoins equivalentes são então destruídos ou retirados de circulação.
Devido as controvérsias causadas pelo tether, surgiram outras stablecoins que cresceram em popularidade, citamos como exemplo o TrueUSD como uma delas. O TrueUSD atualmente é a segunda mais popular e como o tether também é lastreada na proporção 1:1 para o USD.
O TrueUSD (TUSD) no entanto, nunca toca os seus fundos – em vez disso, permite que os usuários troquem os USD diretamente com uma conta Escrow (garantia prevista em um contrato ou acordo comercial que é mantida sob a responsabilidade de um terceiro até que as cláusulas desse acordo sejam cumpridas por ambas as partes envolvidas no negócio), permitindo proteção legal completa para os titulares de tokens, mais a garantia que seu TrueUSD (TUSD) seja realmente apoiado por USD.
No início de 2018, a empresa de finanças cripto Circle anunciou o lançamento de sua moeda de USD (USDC), apoiada pelo dólar americano. USDC já é aceito em diversas exchanges internacionais.
Stablecoins Colateralizadas em Commodities
As stablecoins com garantia de commodities são apoiadas por outros tipos de ativos intercambiáveis, como metais preciosos. O ouro é um metal comumente colateralizado, mas também existem lastros em imóveis, petróleo e cestas contendo vários ativos, como uma gama de metais preciosos, por exemplo.
Os detentores desse tipo de stablecoin detêm essencialmente um ativo tangível que tem valor real – algo que muitas criptomoeda não possuem. Existe até mesmo o potencial de valorização ao longo do tempo devido à valorização da colateralização, o que aumenta o incentivo para as pessoas segurarem e usarem essas criptomoedas.
Stablecoins Colateralizadas em Criptomoedas
Esse tipo são as moedas digitais apoiadas por outras moedas digitais.
Isso permite que a stablecoin com suporte a criptografia seja muito mais descentralizada do que seu par apoiado em FIAT, já que tudo é conduzido na plataforma blockchain.
A forma encontrada até o momento para diminuir os riscos de volatilidade é a co-colateralização. Por exemplo, para obter $ 500 em stablecoins, você precisaria depositar BRL $ 1.000 em Éter (ETH). Nesse cenário, as stablecoins estão 200% colateralizadas e podem suportar uma queda de preço, digamos, de 25%. Isso ainda significaria o valor de US $ 500 das stablecoins são colateralizadas por BRLS $ 750 em ETH.
As stablecoins com garantia criptográfica são descentralizadas, permitindo que processos sejam ainda mais confiáveis, seguros e completamente transparentes. Não existe uma entidade única controlando seus fundos.
Além disso, eles geralmente são apoiados por várias criptomoedas com o intuito de diversificar o portfólio para distribuir os riscos.
O exemplo atual com maior destaque e com um olhar promissor dos especialistas de mercado é o Dai.
Criado pela MakerDAO, o Dai é uma stablecoin com valor de face atrelada ao USD, ela de fato é apoiada por Ethereum (ETH) que é bloqueado como garantia utilizando contratos inteligentes.
Stablecoins não Colateralizadas
O último tipo de stablecoins são as não colateralizadas, ou seja, não são apoiadas por nada, o que em um primeiro momento demonstra contraditoriedade, já que é rotulada como uma stablecoin.
Um exemplo real e paralelo a esse “fenômeno” é o dólar americano. Há décadas atrás, a moeda era lastreada em ouro, mas isso como dito já não ocorre mais.
Mas aí nos perguntamos, por que as pessoas a valorizam tanto?
A resposta é simples e clara, o dólar ainda é perfeitamente estável porque as pessoas acreditam no seu valor. A simples crença das pessoas no valor de algo já é suficiente para que se torne tipo de “ativo” financeiro.
Dessa forma, a mesma ideia pode ser aplicada a stablecoins não colateralizados.
Esses tipos de moedas usam uma abordagem governada por algoritmos para controlar o fornecimento de stablecoin. Este é um modelo conhecido como ações de senhoriagem.
À medida que a demanda aumenta, novas stablecoins são emitidas para que o preço reduza e volte ao nível normal. Se a moeda estiver sendo negociada a um valor muito baixo, moedas no mercado são compradas para reduzir a quantidade em circulação e consequentemente subir seu valor. Essa função é similar a realizada por bancos centrais e agências reguladoras de nações em geral.
No entanto, stablecoins não colateralizadas exigem crescimento e demanda contínuos. A falta de sucesso, ou no caso de um acidente, não há garantias que sustentem a manutenção da moeda digital e todo dinheiro fiduciário envolvido pode ser perdido.
Resumo dos tipos de stablecoins:
As exchanges também podem se beneficiar através das stablecoins
Devido a legislação de cada país, a aceitação de FIAT nas exchanges pode ser dificultada, ou até mesmo limitada. Entretanto, o uso de stablecoins permite que o câmbio seja facilitado e o problema seja contornado. Basta a Exchange oferecer uma stablecoin colateralizada (par de negociação cripto-fiat) em USD ao invés de realizar o câmbio em moeda fiduciária (USD FIAT).
No contexto de facilitar a adoção de moedas digitais, esse procedimento ajuda muito. Um novo cliente sem experiência na compra de criptomoeda poderá continuar a pensar em termos de sua própria moeda FIAT (reais, dólares, euros, …), assim facilita o entendimento da constante flutuação de preço do BTC, por exemplo, que possui uma alta volatilidade.
Limitações
Mas o universo das stablecoins não é feito somente de vantagens, esse tipo de moeda digital também apresenta suas limitações.
O Tether, como já foi mencionado, é um exemplo de uma debilidade que uma stablecoin pode ter. Ele é um sistema centralizado, ou seja, executado por uma única entidade. Isso implica confiar somente em uma entidade. Caso essa entidade falhe, todo o sistema pode colapsar.
No caso do Tether, existe a desconfiança que a entidade responsável não esteja colateralizando os USD fiduciários necessários como descrito em sua oferta.
Outra debilidade se deve a stablecoins colateralizadas em commodities, já que algumas podem ter menor liquidez e isso influenciar na liquidez do sistema proposto.
As stablecoins suportadas por criptografia também vêm com seu próprio conjunto de deficiências. Por serem atreladas a outras criptomoedas, as torna muito mais vulneráveis à instabilidade de preços quando comparadas com stablecoins colateralizadas em commodities. Nesses casos a saúde de uma moeda está ligada a saúde de outra, ou a uma cesta de outras moedas.
Podemos imaginar um cenário o qual uma queda de preços pode automaticamente liquidar o ativo criptográfico subjacente, já que existe a colateralização. Isso é uma desvantagem desse tipo de stablecoin, pois para um usuário com menor conhecimento sobre trading, esse mecanismo de liquidação é mais difícil de entender, o que aumenta a exposição a risco do investidor em particular.
O que o podemos espera do futuro próximo?
As stablecoins ainda pertencem a uma classe de produto altamente experimental, entretanto, uma implementação bem-sucedida pode ser um grande catalisador para mudanças fundamentais de longo prazo na economia global. A falta de estabilidade de preços impede que as criptomoedas substituam a maioria das formas de moeda fiduciária, e as stablecoins podem fornecer a solução. A dissociação de governos e dinheiro pode acabar com políticas hiperinflacionárias, controles econômicos e outras políticas prejudiciais que resultam da má administração governamental das economias nacionais.
É importantíssimo destacar que cada tipo de stablecoin vem com seu próprio conjunto exclusivo de benefícios e desvantagens, nenhum tipo é perfeito, mas sim mais adequado para tipo de objetivo e funcionalidade.
Além disso, as stablecoins abrem todos os tipos de possibilidades para aplicativos descentralizados, especialmente aqueles que exigem bloqueios a longo prazo ou mecanismos de custódia. Seguros descentralizados, mercados de previsão, contas de poupança, pares de negociações descentralizadas, mercados de crédito e dívida, remessas e muito mais são muito mais viáveis com a inclusão de uma stablecoin.
Embora existam abordagens diferentes para criar uma stablecoin descentralizada, em última análise, o mercado decidirá qual deles será o vencedor.